quinta-feira, junho 04, 2009

Notas sobre Valor de Troca e Ombro Armas...Construindo um circuito de teatro popular


Grupo Oficina de Teatro do Oprimido - "Valor de Troca"


Escrevo este pequeno texto para refletir sobre a apresentação dos experimentos cênicos "Ombro Armas" do Grupo Encenação de Teatro e "Valor de Troca" (esquete de teatro-Jornal) do Grupo Oficina de Teatro do Oprimido (OTO), que foram apresentados conjuntamente no último final de semana (30 e 31 de maio) do Teatro Zaqueu de Melo na cidade de Londrina.

aquecimento coletivo - antes da apresentação

Os dois Grupos são vinculados a Fábrica de Teatro do Oprimido e foram formados através de processos de multiplicação realizados por Milintates Curingas da FTO, nos anos de 2007 (OTO) e 2008 (Encenação). Ambos são constituidos, por estudantes - do ensino fundamental, médio e Universitário - e se encontram em oficinas semanais que variam de 2 a 4 horas.



Grupo Encenação de Teatro - "Ombro Armas"


Estes experimentos marcam uma nova pesquisa teatral, estética e social que os Grupos Ligados a FTO vem desenvolvendo desde 2008: Um diálogo entre as perpectivas de Bertold Brecht e seu teatro Épico e Augusto Boal, principalmente com suas técnicas de Teatro-Fórum e Teatro-Jornal. Nesta pesquisa são abordados temas formação crítica de um circuito popular, controle coletivo sobre a totalidade social do processo de trabalho criativo – desde a socialização da produção, até a ampliação do público – e, além de muito, muito mais: a não-alienação entre ator e espectador.


São estas bases que fundamentam a realização de experimentos cênicos, como os realizados no último fim de semana. Os espetáculos apresentados, não são produtos acabados, mas sim, o inicio de um processo de reflexão estética sobre a realidade social. Estão ainda em fase exploratória.





Em um contexto em que, as obras artísticas relacionadas às práticas políticas passaram a ser categorizadas como “peças de museu”, “caídas em desuso”, “envelhecidas”, paralelamente à queda dos grandes referenciais de esquerda, - como se estas práticas respondessem, exclusivamente a esses blocos - atirgir um público de aproximadamente 180 pessoas, sem uma divulgação da mídia oficial (onde praticamente a metade, era constituido de estudantes dos cursinho popular união, que adiquiriu o ingresso a um valor de R$ 2,00); foi sem dúvida uma grande vitória. O que nos demonstra que tentivas de construção de um circuito alternativo de Teatro Popular, que dialoguem de fato com a população, podem funcionar.



Outro aspecto a se resaltar é que estes experimentos cênicos proporcinou um contato dos estudiosos – acadêmicos, pesquisadores, críticos, entre outros – com o que ocorre no campo, na prática/praxis, com esse universo de produções, o que pode abrir espaços para futuros diálogos/debates que relacionem arte, politica e sociedade, reabrindo um espaço que há muito vem sendo sistematicamente fechado ppara discussões e encontros.



Grupo Encenação de Teatro - "Ombro Armas"



Inclusive, junto aos próprios artistas fechou-se o debate, deixando que mediadores dialoguem e que estabeleçam as tendências; restringindo a possibilidade de diálogo e de discussão.


Historicamente, a construção coletiva foi a alternativa mais eficaz que tiveram os artistas vinculados às práticas políticas para superar o "artista silenciado". Toda a produção desta mini-temporada no teatro Zaqueu de Melo, foi uma construção coletiva. Não só dos grupos apresentaram seus experimentos, mas de toda a FTO ( da venda de ingressos, passando perla construção da cenografia e figurinos, à participáção de técnicos de iluminação e som). A construção coletiva “é um gesto, e como gestualidade pode gerar espaços solidários, abrir territórios desconhecidos, projetá-los em direção a um tempo futuro”.




"Preparando a cena"


Acreditamos (aqui em tom de manifesto) que nossa pratica artística - neste caso materializada na produção desta mini-temporada e na propria apresentação dos experimentos cênicos - é de fato comprometida. E não se trata de um teatro comprometido porque aborda uma problemática relevante para nossos tempos, e sim, do teatro que busca uma ação política, uma ação política concreta. Afirmamos o tema mais complexo: o ativismo através do teatro, ou seja de uma ferramenta de intervenção política que seja uma ferramenta de transformação para a emancipação, a liberação dos setores marginalizados, oprimidos, populares, subalternos, dominados, segundo as múltiplas denominações, do que antes foi a classe operária, ou camponesa, em outras latitudes.



Esta ação, que se realizou em Londrina foi concretizada por artistas que acompanham e militam em processos de transformação social e reconhecem assim o campo da cultura, em geral, e das artes cênicas, em particular, o terreno propício de disputa hegemônica da classe dominante.


"Quebrando" ou não a quarta parede, os Grupos Populares da FTO, comunicam-se horizontalmente com o público, confabulando a ação inerente à realidade por meio da reflexão proposta em cena. A idéia é conseguir estender ao meio social o tema discutido, partindo da inquietação do espectador, no sentido de provocar o sair da acomodação, interferindo na sua forma de pensar-agir para que este juntamente com o ator seja o interagente da sociedade, buscando um novo ser social capaz de protagonizar a sua história.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...