Grupo Caos e Acaso de Teatro

O Grupo Caos e Acaso de Teatro assume para suas práticas teatrais uma definição que afirma que o Teatro Popular, numa de suas possibilidades, pode ser entendida como aquela prática teatral que é realizada, buscando a superação das relações mercantilizadas de Trabalho (estético e extra-estético) inserida na conjuntura sócio-econômica, política e cultural, ou seja, àquela prática artística de ‘resistência’ social, contra-hegemônica, ligada aos interesses das classes oprimidas e subalternas. Uma prática artística que não pode ser separada da vida social e se vincula às lutas pela melhoria das condições de existência.”

(Roberto Sales - Grupo Caos e Acaso de Teatro no Texto: Café Quente em Noite Fria: Comunicação, Teatro e Política).


 
O Grupo Caos e Acaso de Teatro é o núcleo ativador da Fábrica de Teatro do Oprimido de Londrina (FTO). Formado em 1999, por atores e agentes culturais de Londrina, sempre teve como meta desenvolver uma prática artística vinculada aos interesses da maioria da população. Entre os anos de 2002 e 2003, o grupo realizava um estudo sistemático sobre o tema “Teatro, Sociedade e Política” e a montagem de “peças-processo”, onde buscava desenvolver uma linguagem teatral que não só refletisse sobre a realidade social, mas pudesse, igualmente, propor alternativas para transformá-la. Como fruto deste projeto o Grupo monta uma re-leitura do espetáculo Cênico Musical “Liberdade, Liberdade”, (de 1965), um clássico da dramaturgia brasileira, com texto de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, obra tentou traduzir o inconformismo da nação perante o arbítrio e a repressão do regime, inaugurando um estilo de espetáculo que viria a ser chamado “teatro de resistência". E “Out Cry Strindberg”, uma adaptação de Roberto Sales a partir de textos do dramaturgo sueco August Strindberg, objetivando propor uma discussão sobre as relações de poder na vida social.

Buscando formas teatrais que dialogassem diretamente com a realidade social e política do Brasil, as pesquisas do grupo Caos e Acaso de Teatro logo se voltaram para o trabalho do dramaturgo e diretor teatral brasileiro Augusto Boal e sua metodologia do Teatro do Oprimido (TO).


"Dias Contestados". Ensaio Aberto. 2011

Em 2004, o grupo começa a desenvolver o projeto chamado “Teatro e Transformação Social”, que tinha como meta a formação de grupos populares de Teatro do Oprimido na cidade de Londrina. Como resultado imediato surgiram 4 grupos de Teatro do Oprimido nas periferias da cidade, formado por estudantes secundaristas e mulheres vitimas de violência doméstica. No ano de 2005 o projeto continuou e os grupos se multiplicaram. Nasce então a Fábrica de Teatro do Oprimido (FTO), enquanto uma organização não governamental que tem como missão articular e fomentar estes grupos populares de teatro, como também criar novos espaços de circulação cultural.

Já no ano de 2008, tanto os grupos populares ligados a FTO como o próprio grupo Caos e Acaso começam a se aproximar, através de seus processos, das perspectivas de Bertolt Brecht, passando a se dedicar ao estudo dos pressupostos do Teatro Dialético, tentando ampliar os campos, onde espectadores e atores participam, ativa e conjuntamente, na produção de um conhecimento histórico-cultural dos temas e problemas abordados pelas peças-processos produzidas pelo o grupo.

" O Amor é Mesmo Assim?". 2011
A partir desta pesquisa o Grupo estréia em 2009 o espetáculo Cênico- Musical “Café Quente em Noite Fria ou o Ensaio sobre a Lenda do Ouro Verde” ambienta-se no período da grande Geada Negra, que se abateu sobre norte do PR em 1975 e a migração para as Terras da Amazônia em 1976, mostrando respectivamente fim e re-inicio de uma mesma lenda, a do “Ouro Verde”. A peça narra fragmentos das Histórias de Zé Alcino e Betina. Ele pequeno proprietário de terras, que vê sua pequena plantação queimada pela geada, obrigado mais uma vez a partir para terras mais distantes em busca de sua subsistência. Ela, Jovem camponesa, que se vê obrigada a deixar o sitio de seus pais e procurar ocupação na cidade. A partir da ótica destes dois personagens, o espetáculo procura analisar os motivos (e a geada foi apenas mais um dentre tantos), que levaram os lavradores do Sul a se tornarem os colonos do Norte: a mecanização da agricultura, o movimento de proletarização do campo, a expulsão das terras, e outras mais. Inclusive da busca de um sentido para busca de uma “terra prometida”.

Desta maneira, o Grupo vem buscando construir sua perspectiva de Teatro Popular enquanto espaço estético. Um teatro pensado como forma de sensibilização, criação e discussão de dimensões sócio-culturais, ético – políticos e existenciais, com ferramentas estéticas revigoradas: aprofundando a reflexão sobre a produção teatral, linguagem, gêneros, formatos de espetáculos e a comunicabilidade dos códigos utilizados na situação da formação de público, o estudo da arena e da rua como espaços de espetáculos.



"Café Quente em Noite Fria..." 2009
Como núcleo ativador desta proposta de Teatro Popular está a Memória Coletiva do Trabalho e das lutas do homem comum, do trabalhador. Uma memória que guarda a História não-oficial e esquecida ou propositalmente negligenciada pela historiografia oficial. Não é por acaso que a temática dos espetáculos do grupo vem sendo, por um lado, a “questão do trabalho”, - Como nos espetáculos “Essas Mulheres” (2004) “Construção” (2005) - e por outro, grandes processos de luta social e política da população; como nos espetáculos “Café Quente em Noite Fria ou o Ensaio Sobre a Lenda do Ouro Verde”(2009), “Dias Contestados” (2010).

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...